Muitos animais sofreram alterações à medida que se modificou o ambiente do planeta. Será que o mesmo não poderia acontecer com o homem, de tal modo que seu corpo se adaptasse ao ambiente poluído? Se isso ocorresse, talvez o homem do futuro ficasse mais ou menos assim:
A membrana nictitante, que é a terceira pálpebra (existente nos répteis e nas aves e representada, no homem, por uma saliência localizada no canto interno do olho, a carúncula), tornaria a se desenvolver e seria transparente, dando ao homem uma proteção extra contra o excesso de acidez proveniente das emanações sulfúricas da poluição. A musculatura do pavilhão auditivo poderia se modificar de forma a se tornar semelhante à da orelha do hipopótamo, que tem a possibilidade de fechar o meato auditivo, quando vai mergulhar, para que não entre água. No homem, a orelha seria fechada sempre que o excesso de ruído fosse ensurdecedor. O nariz, um filtro biológico maravilhoso, apresenta no seu interior uma série de ossículos que formam uma verdadeira câmara de decantação, através da qual o ar vai passando, dando voltas e deixando as partículas e poeiras grudadas no muco. Pois bem, a quantidade de poeira, no futuro seria tão grande que apenas duas narinas não seriam suficientes para filtrá-las. Seriam necessárias pelo menos meia dúzia delas.
As bochechas poderiam se desenvolver de maneira semelhante às do castor e outros roedores, que mastigam o alimento e o armazenam na boca para que seja digerido pela saliva. Se a nossa saliva, por mutações, adquirisse enzimas despoluidoras, o alimento altamente contaminado com os pesticidas e outros tóxicos poderia ser descontaminado e, depois de algumas horas, engolido sem riscos de envenenamento.
Para que o homem pudesse aproveitar o pouquíssimo oxigênio ainda existente n
o ar, precisaria de pelo menos o dobro da atual capacidade pulmonar.

Passando sentado a maior parte do tempo, pernas e braços tenderiam a se atrofiar, ao mesmo tempo que as nádegas desenvolveriam protuberâncias semelhantes a almofadas.
Devido à destruição da camada de ozônio, a penetração dos raios ultravioletas seria muito grande. Como consequência , o homem ficaria sem pêlos e a maioria dos gametas seria esterilizada. Para que alguns gametas pudessem sobreviver, a capacidade de produção e armazenamento dos órgãos sexuais precisaria ser extremamente aumentada. Completando, esse homem do futuro teria o dedo indicador espatulado para melhor apertar os botões de seus inúmeros aparelhos.
Fonte: Paul Ehrlich